Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2005
Subcontratação: o debate

Pergunta: Devem os países ricos preocuparem-se com a subcontratação e exportação de empregos para o 3.º mundo?

Não. Desde sempre ela existiu. A Motorola, p.e., na década de 60 já tinha fábricas na Malásia, Coreia e México. A poupança de custos nas partes, permitia-lhe ser competitiva no todo.

Mas... hoje o processo é mais extenso. Em montante: anualmente 0,5% dos empregos nos EUA são exportados. Em países: China, Índia, Sudeste Asiático. E no tipo de empregos: pela 1.ª vez não é apenas trabalho barato mas, também técnico que é exportado: enquanto o México e China exportam trabalho barato, a Índia exporta trabalho técnico. Nos computadores. No software. Na aeroespacial. Partes destas indústrias são hoje exportadas para o 3.º mundo. Em Bangalore (Índia) há um centro de tecnologia Jack Welch. Desde 2000 que Silicon Valley perde empregos, ano após ano. Estima-se que 3,3 milhões de empregos e 140 mil milhões de dólares de salários técnicos, emigrarão dos EUA até 2015.

... Que podem os países ricos fazer? Acabar com os incentivos fiscais a operações no estrangeiro (John Kerry). Continuar a investir em I & D (os países do mundo que mais gastam em % do PIB são Suécia, Japão, Finlândia e EUA). Atrair mais e melhores alunos para as áreas de engenharia e ciência (antes os EUA atraíam os melhores alunos indianos, hoje já não). Combater as ‘sweat shops’ (mas apenas gradualmente porque elas são na verdade a alternativa a empregos ainda piores). Promover legislação ambiental. E, finalmente, não se preocupar demasiado.

? É que há limites (à subcontratação). Mecanismos de compensação. Ajustamento. E novas oportunidades.

Limites: A necessidade de grande qualidade (na produção de certos componentes). E de rápida adaptabilidade na oferta de outros: na electrónica, sistemas automatizados, etc., a esmagadora maioria do trabalho fica onde a tecnologia teve origem, porque o produto muda continuamente e há poucas rotinas.

Há, depois, mecanismos de ajustamento: Salários que sobem deixando de compensar os custos de transporte, a falta de flexibilidade e rapidez da subcontratação. E há a taxa de câmbio. Se a Índia produzir grandes superavits, a sua moeda valorizar-se-á encarecendo a sua mão-de-obra ( a alternativa é alta inflação a prazo).

Finalmente, surgem novas oportunidades, algumas independentes e outras devido à subcontratação. Primeiro, novas áreas emergem, onde os EUA já estão presentemente muito à frente: robótica, a genomia dentro da biotecnologia e a electrónica ligada à defesa. E segundo, a subcontratação cria ela própria oportunidades: mais salários no 3.º mundo significa mais dinheiro para 1) serviços ocidentais: saúde, lazer, turismo; e 2) bens em geral.

Friedman refere no N.Y.Times que quando perguntou a um CEO indiano cuja empresa faz assistência técnica, ‘call center’ e processamento de cartões de crédito: “Em que é que os EUA beneficiam?”. Este lhe respondeu: “Olhe à sua volta nesta sala. O computador? É um Compaq. O software? Microsoft. Os telefones? Lucent. O ar condicionado? Carrier. Ah, e as bebidas? Coca-cola...”





publicado por psylva às 21:54
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Passado
escolha é entre os que não nos tiraram da crise, os que lá nos meteram e os que fariam pior se lá estivessem. São esses que nos vão alimentar durante semanas com o mais diáfano dos manjares as promessas. E a única promessa que era preciso que nos fizessem é precisamente aquela que não vão fazer. Era urgente que nos garantissem solenemente que vão prejudicar a sério muita gente.

A democracia portuguesa funcionou surpreendentemente bem nos vinte anos iniciais após o 25 de Abril, pela primeira vez na sua História.

Mas começa a dar sinais das terríveis doenças que a destruíram nas suas existências anteriores. O corporativismo, clientelismo e, acima de tudo, o despesismo estão em crescendo desde que em meados dos anos 90 perdemos o medo à Europa.

Têm-se multiplicado os grupos de interesse que se arrogam direitos a dinheiros públicos e, por isso, voltaram os apertos que Passos Manuel, Fontes Pereira de Melo e Afonso Costa conheceram tão bem. Toda a sociedade está refém dessa chantagem fiscal.

O problema não é o défice, é o total da despesa. O Estado leva metade do que produzimos. Os impostos não podem dar mais do que dão, as medidas extraordinárias nunca deram e o combate à fraude é ficção. Confiar no crescimento económico para resolver o problema é como pedir chuva para encher um balde roto. Alimentar o monstro nunca o enfraqueceu. Só há uma solução, reduzir despesas. Isso não é austeridade, é seriedade.

Por isso seria vital que os candidatos em disputa nos dissessem claramente a quem é que vão cortar as benesses, quais os grupos que irão perder os subsídios, que «justas reinvindicações» o Estado não vai cumprir.

Isso era o que precisávamos que nos dissessem. Mas não vão dizer. As promessas assegurarão uma atitude severa e rigorosa, mas contra inimigos vagos ou abstractos, como evasores fiscais, corruptos e até alguns grupos de interesse, mas sempre anónimos.

A primeira razão está na comunicação social, que não perdoaria nunca a um programa honesto e realista. Podemos confiar nos media para estarem sempre contra o interesse nacional, enchendo-nos os ouvidos com quaisquer lamentos patéticos dos que vivem dos nossos impostos. Como nos recentes protestos dos trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos que, apesar de ninguém lhes tocar nas reformas superiores às dos outros funcionários, ainda se arrogam o direito a decidir onde o Estado coloca o fundo com que lhas paga.

Os jornais têm vindo a jogar um jogo viciado com os sucessivos ministros das Finanças. Se um ministro (como Ferreira Leite) se apresenta como austero, atacam-no por destruir o País com a dureza.

Mas se (como Bagão Félix) tenta uma atitude mais animadora, é arrasado por descontrolar as contas. As Finanças são presas por ter cão e presas por não ter. A coisa até teriam graça, se não fosse o País a sofrer. Os ministros são ridicularizados, todos riem, a intriga política prospera e o problema permanece. O programas dos partidos, para conseguirem passar, é optarem pela contabilidade de borracha.

A opinião pública, auto-intoxicada pelos alegados direitos dos que vivem à custa do povo, exigiria uma coragem sobre-humana a um ministro que se atrevesse a tomar medidas do mais elementar bom senso. Não admira, portanto, que as reformas fiquem por fazer, e se acu- sem os políticos de cobardia, depois de os colocar numa posição impossível.

Claro que não faltam culpas aos executores. Longe vão os tempos em que Cavaco Silva subiu o preço da gasolina a dias da eleição com o único argumento de que o País precisava. Hoje os políticos atropelam-se para mostrar a sua vassalagem à omnipotência mediática.

O mais grave da situação é que a situação não é suficientemente grave. Apesar do que dizemos, estamos longe de «bater no fundo». E, com a ajuda da Europa, talvez nunca lá cheguemos.

A conjuntura é suficientemente séria para indignar, mas não o suficiente para aceitar sacrifícios. Ela só promete que a mediocridade eloquente vai arrastar-se anos.


publicado por psylva às 21:53
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Bela Adormecida
O mais prestigiado investidor americano, compara as aquisições empresariais à história da Bela Adormecida:
“Muitos gestores ainda estão sob a influência da história da infância, em que um belo príncipe liberta do sono eterno uma bela princesa. E assim acreditam que o seu beijo empresarial pode também fazer maravilhas nos lucros das empresas adquiridas. Este optimismo leva-os a pagar 2 vezes e mais o preço pelo qual os seus accionistas podiam adquirir as acções da empresa-alvo no mercado.”

Infelizmente muito deste optimismo tem-se revelado injustificado. Isto é, temos visto muitos beijos mas poucos milagres. Como refere M. Sirower da New York Univ., no seu livro, “A Armadilha da Sinergia”, ao indicar que 65% das aquisições falham.

Porque tantas aquisições falham? Há 2 grandes ordens de razões. Primeiro, muitas vezes o prémio de preço é demasiado alto e mesmo que o todo seja maior que a soma das partes, ele não é suficientemente grande para compensar o diferencial face ao preço das acções no mercado.

O preço é determinado pelas razões erradas: testerona (tédio do dia a dia de “business as usual”); vaidade (sou o único do meu grupo de golfe que não comprou nada recentemente...); poder (tamanho é poder); ambição (os meus prémios dependem do cash flow ou lucro sem descontar o custo de capital - EVA).

Segundo, não só muitas aquisições não criam suficiente valor, como por vezes... destroem valor. Isto é, o todo fica menor que a soma das partes.

Porquê? Começa que implementar as sinergias potenciais requer um plano detalhado de acções, uma mão dura e uma cabeça clara por detrás do plano. Senão problemas surgirão: quando a Wells Fargo comprou a First Interstate milhares de clientes saíram devido a filas, falhas nos documentos bancários e problemas administrativos em geral.

Outras vezes, para além de falhas na implementação, acontece que a sinergia negativa (descurada) ultrapassa a positiva (esperada). Diferenças culturais têm aqui um papel importante: a Pharmaco (sueca) e UpJohn Inc. (americana) (associação 50:50) discordaram em tudo: estilo de gestão (o gradualismo sueco versus o enfoque nos resultados imediatos americanos); no sistema de incentivos; no período de férias (tirar todo o mês de Agosto é impensável para os americanos); e até na prática americana de banir alcóol no almoço. Não conseguiram sequer por-se de acordo onde devia ser a sede.

Que fazer? Ex-post, ter um plano detalhado, uma mão forte e uma cabeça clara para implementar as sinergias. Ex-ante, ter uma lista de tudo que pode correr mal e compará-la cuidadosamente com as razões para avançar.

E ambos requerem uma pergunta e uma atitude. Pergunta: como é que a aquisição se insere no nosso negócio e potencializa como ganhamos dinheiro? E (atitude): o ónus da prova está na aquisição. O benefício da dúvida em não fazer nada. Em ficar quieto.

Se estes princípios (entre outros) não forem seguidos, as aquisições serão como os segundos casamentos: um triunfo da esperança sobre a experiência...




publicado por psylva às 21:50
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Os velhos do restelo - reproduçao de artigo do JNeg.
Aos velhos do Restelo, só deixo um conselho – suicidem-se. Porque não entendem que é pelo vosso atavismo que o País não anda para a frente? Não invejem, criem. Não lamentem, trabalhem. Não chorem, empreendam.
O meu texto da passada semana – sobre a necessidade de se gostar do que se faz profissionalmente – suscitou uma chuva de comentários desagradados com a ideia. Um tal de «pase2004» escreveu que «a conversa do senhor José Diogo deve dirigir-se só a partes de sociedades como as alemãs, austríacas, dos Países Baixos, inglesas, francesas, espanholas, ou americanas. Porquê? Simplesmente porque essas sociedades, e mais nas anglo-saxónicas, valorizam quem é bom naquilo que faz, e não quem é amigo, familiar ou carneiro yesman.» Um «luisr» acrescentou que «a corja de patifes que tem governado este beco europeu não deixa margens para dúvidas. É muito triste, é fado,... é tuga. O meu amigo crê honestamente nalguma viabilidade do que escreve, ou é só para animar a malta?» E já um Sonhador perguntava «já agora, como conseguiu o emprego que, aparentemente, lhe paga o suficiente para andar no mundo da fantasia? Ou será que mantém até hoje o «paitrocínio»?». Só para este onírico desconfiado, gostaria de confirmar que tudo o que tenho é fruto do meu trabalho e da minha motivação. Aos meus pais devo a formação moral, cívica e académica. Muito obrigado.

Mas o que desgosta nestes velhos de Restelo é a sua incapacidade em acreditarem. É uma gente derrotada que não confia em nada e, mais triste, não acredita nela própria. É a tal história do fado, do miserável destino «tuga». Parece que Portugal está condenado a gramar com estes perdidos, que para além de nada fazerem, se entretêm a destruir o que os outros fazem. Por acaso Belmiro de Azevedo ganhou o totoloto? Jardim Gonçalves herdou um banco? Rui Nabeiro encontrou uma plantação de café em Campo Maior? Paulo Fernandes descende de uma família de jornalistas? O que irrita nestes miseráveis é que se limitam à lamentação da sua má sorte, atribuindo o sucesso dos outros à sorte, às cunhas ou ao roubo. Nunca vêem o mérito de quem faz e nunca olham para si próprios como os verdadeiros párias que são – porque, pensam, é a sociedade que não os compreende, o sistema que não os valoriza, a má-sorte que não lhes ofereceu uma merecida herança. A estes imbecis, só deixo um conselho – suicidem-se. Porque não entendem que é pelo seu atavismo que o País não anda para a frente? Não invejem, criem. Não lamentem, trabalhem. Não chorem, empreendam. Acredito que o homem tem em si mesmo a capacidade de determinar e construir o seu destino. Nada é pré-determinado. Mas esta gente não tem nem passado nem futuro, porque se limita a conspirar contra o sucesso alheio e a gemer pela sua entediante situação.

São estes mesmos idiotas que no próximo domingo se entreterão a faltar às urnas ou, num igual estado de laxismo, a votar em branco. «Nada vale a pena, os políticos são todos iguais... estão lá é para «mamar» à nossa conta. Isto já não tem solução», reclamam. Caríssimos: têm uma oferta eleitoral que se estende da extrema-esquerda à extrema-direita. Podem ainda tentar jogar em combinações de maiorias governativas pós-eleitorais. E têm ainda o direito de criarem os seus próprios partidos e irem à luta. O que não têm, para mais num momento tão difícil e determinante para o País, é o direito de ficarem nos vossos sofás, entretidos no vosso coro de protestos vazios. Portugal precisa de todos os portugueses para sair do atoleiro em que se meteu. Mas Portugal necessita, mais do que isso, de uma coisa simultaneamente tão básica como difícil. Que os portugueses se deixem de mariquices e de auto-complacência e acreditem neles, empenhando-se na solução dos nossos problemas comuns – o que passa pelo exercício de uma opção eleitoral. Um português não é, em absolutamente nada, diferente de um espanhol, de um inglês ou de um americano. Eu sei, porque já estive no estrangeiro e vi que, lá fora, os homens e as mulheres têm as mesmas duas pernas, os mesmos dois braços e a mesmíssima cabeça. O que falta ao cérebro dos portugueses é saber que aquilo que se quer, se consegue. Estudem, inovem, trabalhem, persistam e acreditem. É assim em tudo o mundo, quando se quer o sucesso. E é da mesma forma em Portugal. Não culpem o sistema, os políticos, os vizinhos, ou o azar pelo que não têm. Culpem-se a vocês e libertem-se dessas limitações. Portugal precisa. Vocês também, mas Portugal precisa muito mais.





publicado por psylva às 21:49
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Vem de longe o adágio: em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.


Não é pois de admirar que de vários quadrantes venham propostas para a ”salvação nacional”, um pouco para todos os gostos: nas indústrias tradicionais passar do preço à qualidade e entrega (rapidez e pequenas ou grandes quantidades); apostar nos serviços (financeiros, turismo e saúde); desenvolver o vector estratégico do mar; etc.

Contudo, todas estas sugestões têm tanto de válido como de secundário. Face à verdadeira grande prioridade nacional, que é a mudança dos hábitos de trabalho. A ética de trabalho. A qual, para parte da população portuguesa, não só é má, como tem vindo a decair.

O primeiro dos maus hábitos é a proscrinação. Sendo o tempo o grande recurso escasso da vida, muitos gestores não são decisores, são indecisores. Vão adiando, adiando, como se a produtividade dependesse de pensamentos e não acções. Ora, o pensamento é um meio para a acção. Não uma alternativa.

Segue-se a falta de rigor. O desleixo. E o cinzento. Nos EUA e na generalidade da Europa, é não ou sim. Se é não, é não. Se é sim, é sim. Em Portugal? Primeiro é sempre sim. E depois nim (nem não nem sim).

Falta depois uma cultura de responsabilidade. Pelos objectivos. Pelos compromissos. Pelo dinheiro dos contribuintes, interesses dos accionistas, protecção dos empregados e o bem estar da comunidade.

Quarto: falta de pragmatismo – Qualquer defeito é pretexto para não se avançar, esquecendo-se que, neste mundo, nada sendo perfeito, tudo tem que ser avaliado em balanço, de prós e contras. Um dos mitos é que os portugueses são despachados. Não são. Apenas improvisam para resolver as emergências criadas pela sua lentidão.

Quinto: a preguiça que se refugia no falar e reunir em vez de 1) pensar, 2) decidir e 3) agir. E na desorganização (i. é., na preguiça mental). A flexibilidade dos portugueses resolve sobretudo os problemas criados pela sua própria desorganização.

Sexto: os truques, as pequenas ”manhas” fazendo com que nada seja o que parece, por oposição a ‘think straight, talk straight’.

Em síntese, prevalece hoje em vários sectores uma cultura de adiamento, desleixo, irresponsabilidade, ausência de pragmatismo, preguiça e ”truques”.

Pode-se mudar? Pode. Flexibilizando (os mercados). Liberalizando (a concorrência). Abrindo (ao exterior). Reformando (as instituições públicas).

Só através destes quatro vectores se fará a grande revolução necessária hoje, trinta anos após a revolução da liberdade: a revolução do trabalho.

Não trabalhar mais (Portugal já é o 2º país da UE que mais horas trabalha). Mas, melhor. Mais simples. Com mais rigor. Mais rapidez. Mais sentido de responsabilidade. Mais respeito.

Sem esta reforma, pouco das outras resultará. Pelo que não sendo suficiente, a revolução do trabalho, é certamente a primeira entre as grandes reformas estruturais, necessárias.







Dois dos livros mais oferecidos neste Natal foram O Código da Vinci de Dan Brown (Bertrand, 2004) e A Verdadeira História de Jesus de E. P. Sanders (Notícias, 2004). Nas suas diferenças, incluem uma oculta característica curiosa a própria base de raciocínio destrói-lhes a veracidade.

Ambos partem do princípio de que os Evangelhos são falsos. A razão, que repetem sucessivamente, é que os textos bíblicos foram escritos por fiéis várias décadas após os acontecimentos, o que lhes retira credibilidade. Mas eles, escrevendo dois mil anos mais tarde com base em crenças modernas, é que julgam relatar com segurança «a verdadeira História» do que aconteceu. Seria ridículo, se não fosse triste, pois os dois, mas sobretudo o teólogo Sanders, têm pretensões científicas.

O que não dizem é que neste campo essa abordagem pouco ou nada tem a ver com a solidez da Física ou até da História.

Eles não conseguem provas científicas, em qualquer dos sentidos, das palavras «provas» e «científicas». Existe investigação séria e factos prováveis, mas depois combinados em especulações e construções hipotéticas que, mesmo quando escoradas em argumentos respeitáveis, não têm qualquer garantia da certeza de outros ramos intelectuais.

Nesta disciplina o trabalho de cada investigador é construir uma teoria para compatibilizar os dados disponíveis da forma mais plausível. Nas lacunas ou contradições, esquecem uns, empolam outros. Por isso há tantas. Se a sua doutrina convencer os colegas, a tese ganha chancela de «resultado científico». Mas no tribunal da História, como nos outros, a principal fonte válida é a afirmação das testemunhas. «Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro» (Jo 19, 35). Desprezando isso, para mais a milénios de distância, perde-se a verdade e entra-se na ficção.

Estas teorias sofisticadas têm fatalmente de ser quase só fantasia.

Isso vê-se bem quando é descoberto um novo elemento objectivo, normalmente em escavações arqueológicas, e vários «resultados científicos» voam em estilhas, mostrando que as suas certezas seguras tinham mais de certezas que de seguras.

A data dos Evangelhos, por exemplo, ainda há pouco considerada muito tardia, tem vindo a ser aproximada do tempo de Jesus à força de achados da arqueologia.

Além disso, a questão aqui não é histórica. O que nos interessa na personagem de Jesus é saber se fez milagres, se ressuscitou dos mortos, se é filho de Deus. Qual a escavação, análise textual ou experiência laboratorial que permite a certeza quanto a isto? A ciência, por definição, não entra nestes campos, como na determinação do melhor bolo-rei ou do vencedor das eleições. Aduzir resultados científicos nestas matérias é arrogância tonta.

Os dois livros são pois manifestos religiosos sob capa objectiva.

O Código da Vinci não esconde crenças gnóstico-esotéricas.

A Verdadeira História oculta uma fé cientifista. A hipótese de partida é que há um Jesus histórico, que não interessa se é Deus ou ressucitou. A sua «verdadeira História» é mundana e separável de questões espirituais e sectárias. Pode separar-se Mozart da sua música? O Marx histórico não é revolucionário?

Isto, além de ser mera convicção de fé materialista (onde está a prova?), mostra uma tacanhez de espírito nada científica. Estar fechado a outras possibilidades foi sempre o maior obstáculo à descoberta da verdade





publicado por psylva às 21:46
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Um novo perigo nas estradas

A política não afecta a condução dos auto-mobilistas. Uma pes-soa ao volante do carro está acima de qualquer lei ou regu-lamento, controla a circunstância em in-teracção com outros condutores. É uma das situações eviden-tes de poder indivi-dual, como o capitão 'único senhor absoluto do navio abaixo de Deus'


Portugal tem um grave problema no trânsito. As mortes por acidente, das mais elevadas na Europa, geram um terrível risco suportado por todos. Que pode o Estado fazer?

Se formos realistas e honestos, a resposta tem de ser "Quase nada!".

A política não afecta a condução dos automobilistas. Uma pessoa ao volante de um carro está acima de qualquer lei ou regulamento, controlando a sua circunstância em interacção com os outros condutores.

É uma das situações evidentes de poder individual, como o proverbial capitão, "único senhor absoluto do navio abaixo de Deus".

Mas esta afirmação é inaceitável para o nosso tempo.

A civilização ocidental foi construída sobre a crença implícita no poder da política.

A asserção anterior fere as nossas convicções mais profundas, suscita escárnio de colunistas e repúdio de doutrinadores.

Tudo tem de ter uma solução, estratégia, regulamentação.

Das coisas mais íntimas, como família e higiene, às mais vastas, como cultura ou arte, em todas o Estado estende a sua ânsia estatutária.

Somos a primeira época da História que confia mesmo na omnipotência das portarias.

Por isso, num esforço intelectual hoje rotineiro, conseguimos encontrar formas de as leis fingirem interferir até na condução dos automóveis.

Há propostas razoáveis a melhoria da rede viária, o policiamento, a formação e o apertar das condições nas cartas de condução.

São medidas que, a prazo e de forma indirecta, acabam por ter efeitos na sangrenta situação rodoviária.

Mas, se abandonarmos preconceitos dirigistas, vemos que isso, apesar de útil e benéfico, pouco afecta a verdadeira causa dos desastres.

Só que estas medidas têm um grave inconveniente para os políticos são esforços lentos e continuados, com efeitos seguros mas tardios.

A impaciência dos eleitores e a carreira dos eleitos exige medidas decisivas, políticas ambiciosas, estratégias revolucionárias.

Aqui, o Estado deixa de ser benéfico e passa a agressor.

As regras do novo Código da Estrada, em breve em vigor, são exemplos desta tolice bem intencionada.

Qual a vantagem de obrigar todos os carros a ter um colete retrorreflector (art.º 88)?!

Imaginam-se situações bizarras em que o insólito acessório reduza a sinistralidade.

Mas o mesmo se aplicaria a botijas de oxigénio, localizadores de GPS, joelheiras ou desfribiladores cardíacos.

Será razoável impor-se o seu uso?

Tirar a carta a quem estacionar na berma (art.º 145 g), parar numa passadeira (art.º 145 o) ou encandear outro automobilista com os "máximos" (art.º 146 d) não resolve nenhum problema e cria vários.

Levar 300 euros a quem atirar "quaisquer (?!) objectos para o exterior do veículo" (art.º 79) ou 600 euros a quem andar a 70 quilómetros à hora na cidade (art.º 27) é mais excesso de multa que de velocidade.

O Código usa assim o método dos aeroportos contra o terrorismo não apanha os criminosos, mas finge combatê-los aborrecendo inocentes.

O legislador não compreende a brutalidade das suas armas.

Recomendar o uso de cadeirinhas para crianças é útil e conveniente; impor o seu uso abaixo de 12 anos ou 150 centímetros (art.º 55) nos carros (mas não nos autocarros!?) serve só para caçar multas.

Os produtores dos acessórios esfregam as mãos e os pobres desesperam.

Se faltar a cadeirinha, por alguma razão, é melhor arriscar e ir a pé com a criança pela estrada?

Tudo isto nasce da tolice do Estado, que se recusa a confessar a incapacidade em resolver problemas que o ultrapassam.

Se leis mais pesadas dessem carros mais bem conduzidos, então prisão perpétua por pisar o traço contínuo acabaria com os acidentes.

As vítimas são os pobres, para quem o carro é um luxo com as multas e acessórios inúteis.

Temos um grave problema no trânsito. Só a sociedade o resolverá, mudando hábitos, criando associações, gerando pressão.

A obsessão dirigista só consegue ver meios políticos para intervir. Exagera penas, menoriza a sociedade e oprime a população com regras tontas e arrogantes.




publicado por psylva às 21:45
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>Quatro Casamentos e um Funeral
No Público foi publicado este texto bastante bem pensado. A Maria é a

>República Portuguesa. Os outros são muito conhecidos.

>

>Quatro Casamentos e um Funeral

>

>O António afiançara à Maria que a vida seria um mar de rosas e cheia de

>prosperidade. O casamento foi feliz e despreocupado. O António era um

>gastador compulsivo mas a Maria não queria saber nada dessas coisas de

>dinheiro. "A família não são números", proclamava o António a quem lhe

>chamava a atenção para os excessos. O que interessava era a qualidade de

>vida, as grandes festas e as aparências.

>

>Quando um dia, repentinamente, o António fugiu de casa deixando apenas as

>prestações das dívidas por pagar, a Maria entrou em desespero. Estava de

>tanga. Atemorizada, casou com o Zé Manel, depois de um curto namoro.

>Afinal,

>o Zé Manel parecia ser bem mais ajuízado que o António e talvez trouxesse

>alguma ordem às finanças lá da casa.

>

>Os rapazes sentiram logo algumas diferenças. As semanadas foram congeladas,

>o Zé Manel não lhes dava dinheiro para o autocarro e o discurso mudara:

>"Temos que poupar, não podemos gastar o que não temos", dizia o Zé Manel.

>Mas aquilo era só da boca para fora. Os costumes da família estavam bem

>enraízados e, no essencial, tudo continuou como no tempo do António.

>

>Apesar das dívidas cada vez maiores, não se cortava na cozinha, nem nas

>férias, nem nas contas da água, da luz ou do telefone. Nunca se dizia que

>não a um livro, a um disco ou a uma ida ao cinema. Não se mexia em direitos

>adquiridos. Por vezes o gerente da Caixa telefonava, inquietado com o saldo

>do cartão de crédito. E de vez em quando vendiam algumas jóias antigas para

>acalmar os credores.

>

>Até que um dia o Zé Manel anunciou que se ia embora. Arranjara um emprego

>no estrangeiro, muito bem pago. E disse à Maria: "Não te preocupes, eu vou-me

>embora mas arranjei-te marido novo. Casas-te com o Pedro. Ele cuida de ti."

>

>A Maria assim fez mas o enlace durou pouco. O Pedro era um bocado estouvado

>e tinha alguns amigos pouco recomendáveis. O pai da Maria não gostava dele

>nem um bocadinho e fez-lhe a vida negra. E um dia, o Pedro chegou a casa e

>descobriu que tinha a mala nas escadas.

>

>Agora a Maria vai casar com o José. Foi o pai dela que arranjou o

>casamento. O José faz-lhe lembrar o António, de quem era muito amigo. O José propõe-se

>gerir as finanças familiares de outra maneira. Quando a Maria lhe pergunta

>como é que ele vai fazer ele explica: "É fácil, o objectivo é sermos

>felizes."

>

>O José já prometeu que as semanadas das crianças vão ser aumentadas, porque

>é uma vergonha que os nossos filhos tenham menos dinheiro que os filhos dos

>outros. Vai comprar um computador lá para casa e ligá-lo à Internet, em

>banda larga. Vai haver telemóveis para todos. "É um choque tecnológico",

>explica ele. E promete à Maria, que continua a ser a única a trabalhar lá

>em casa, que não vai precisar de lhe dar nem mais um tostão. O José vai gerir

>a casa com o que tem. E daqui para a frente, quem paga o café e os cigarros é

>ele. Essa mania do consumidor-pagador já era.

>

>Soa a banha da cobra mas a Maria quer marido e os bons pretendentes não

>aparecem. A família da Maria gosta do José. Parece que vem aí um tempo novo

>e os rapazes já estão fartos de más notícias. O José é recebido lá em casa

>de braços abertos.

>

>As más surpresas vão começar a chegar lá para o fim da Primavera. E um dia,

>alguém vai reparar que o título desta história é "Quatro Casamentos e Um

>Funeral".

>

>


publicado por psylva às 21:43
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choque teratológico

No eldorado que se prepara, os impostos não vão subir. O que vai subir é o endividamento do Estado, das empresas e das famílias. As reformas estruturais não vão ter lugar


e não queria ter de pagá-los






grande derrotado nestas eleições foi o País. Virou à esquerda e entregou o poder a um sector dela que é manifestamente incapaz de governar de modo a responder às necessidades dos portugueses.

Pode, evidentemente, sustentar-se que a governação PSD- -CDS/PP pagou, seja pelos últimos três anos, seja pelos últimos oito meses, ou, dizendo de outra maneira, que a essa governação foi imputada a incapacidade de solução dos grandes problemas económicos e sociais, embora eles já viessem muito de trás, e que tal facto acarretou a consequente penalização dos partidos coligados.

Mas isso não pode escamotear o facto de a maioria do eleitorado ter apostado agora na sustentabilidade do insustentável como solução para esses mesmos grandes problemas. Não me refiro ao eleitorado tradicional do PCP nem ao eleitorado recente do Bloco de Esquerda que tem motivações ideológicas fortes. Refiro-me ao eleitorado que deu ao PS uma maioria absoluta só compreensível enquanto largamente proveniente do centro.

Ora, ao contrário do que sustentam os socialistas e os analistas, o eleitorado português não apostou na mudança. É conservador, corporativo e retrógrado. Essa é a estabilidade que pretende lhe seja garantida. Por isso é que não precisava de esclarecimentos nem de discussão dos programas. Por isso é que não se importou com a súbita metamorfose das "promessas" em "objectivos". Objectivos assim não comprometem ninguém nem impõem sacrifícios a ninguém. Não garantem rigor e, para os estultos, dispensam austeridade e apertos de cinto.

O eleitorado já vinha a sentir grande mal-estar nos tempos do Governo de Durão Barroso. Estava a pagar os malefícios da governação socialista e não queria ter de pagá-los. Está-se nas tintas para coisas como o desenvolvimento sustentado, o equilíbrio das contas, a contenção da despesa pública, a sorte das gerações futuras, etc., etc.

Tudo ponderado, prefere que o estilo PS seja reeditado, se possível para pior. Não levou a bem o desconforto imposto pela coligação PSD-CDS/PP. Decorridos três anos, precisava, sim, de que lhe acenassem com um regresso aos tempos do guterrismo e, muito em coerência com isso, apostou em que nada mudaria, de modo a que o Estado continue a cuidar de tudo, a pagar tudo, a subsidiar tudo, a suportar tudo e, last but not least, a empregar cada vez mais gente. Esse é o "milagre da rosa" que o mobilizou e que ele deseja e aplaude.

Nisto, a atitude do eleitora- do português tem muita semelhança com uma atitude muito gene- ralizada na Europa por cá, trata- -se de aguentar o modelo social português, tal como, por lá, se trata de aguentar o modelo social europeu.

Toda a gente sabe ser essa uma manifesta impossibilidade, mas toda a gente persiste em falar pateticamente em economia do conhecimento, em agenda de Lisboa e em competitividade com outras áreas do mundo, em especial com os Estados Unidos, omitindo os dados essenciais do problema.

Também toda a gente sabe que, mantendo-se as coisas como estão, ou voltando elas ao que eram entre 1995 e 2002, não haverá mais do que uma degradação acentuada de todos os aspectos da vida nacional. Mas na maioria ninguém se preocupa com isso.

No eldorado que se prepara, os impostos não vão subir. O que vai subir é o endividamento do Estado, das empresas e das famílias. As reformas estruturais não vão ter lugar. O que vai acontecer é o esbanjamento a pretexto de uma luta contra a exclusão social. A educação não vai melhorar. Há-de voltar-se ao educativamente correcto, com as criancinhas a balbuciarem to be or not to be pela mão de professores que mal sabem falar português. A saúde vai ficar na mesma. O Governo há-de dizer que sim a tudo o que lhe exigirem os médicos, os gestores hospitalares, os enfermeiros, os laboratórios, as farmácias e os doentes. E assim sucessivamente.

Portugal não vai sofrer nenhum choque tecnológico, mas sim um choque teratológico. A curto prazo, terá de enfrentar uma monstruosidade sem pés nem cabeça e tornar-se-á uma aberração irresponsável e ingovernável.





publicado por psylva às 21:40
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Excepcionalismo americano
O excepcionalismo americano


Jorge A. Vasconcellos e Sá



A leitura de “Plan of Attack” de B. Woodward (imortalizado com L. Bernstein por Watergate), trouxe-me à memória as palavras de Alexis de Tocqueville (séc. 19) sobre o excepcionalismo americano: não como melhor ou pior, mas no sentido de os americanos serem diferentes.

Este excepcionalismo percorre a sociedade americana de lés-a-lés: demográfica; religiosa; política; cultural; e economicamente.

Enquanto a UE15 envelhece e a sua população – decrescerá para 380 milhões em 2050 –, os EUA ultrapassam-na e alcançarão 410 milhões nessa data. Enquanto na Europa mais de 2/3 da população é urbana, os EUA é um país de subúrbios (+ de 50%): pequenas cidades, à volta de grandes metrópoles, mas com vida, comércio, serviços e indústria próprias.

Mais. Os americanos são um povo religioso: 44% frequentam habitualmente templos e 60% consideram que a religião é importante na sua vida, por oposição a 32%, 28%, 21% e 11% na Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e França.

O sistema político é muito descentralizado: primeiro a nível estadual; e depois local: cidades e condados. Nenhum país tem mais eleições que os EUA, incluindo em alguns casos para juízes: de 4 em 4 anos um milhão de postos são eleitos.

Culturalmente as diferenças continuam. Gallup: à pergunta se tem muito orgulho na sua nacionalidade?... 80% dos americanos respondem afirmativamente, contra 45% britânicos, 38% franceses, 30% italianos e 19%(!) alemães. O que é mais importante que o governo faça? Ajudar os necessitados (62% em Itália; 61% na GB; 60% na França; 58% na Alemanha). Nos EUA? Apenas 35%. Então o que é prioritário? Dar liberdade para cada um atingir os seus objectivos (58%).

Segue-se o excepcionalismo económico: os americanos trabalham +11% de horas/ano que os europeus. Têm em média 15 dias de férias contra 25, 28, 35, 37 e 42 na Holanda, R.U., Alemanha, França e Itália. E uma produtividade superior à europeia em 11% (por hora) e 20% (por pessoa), maior esta por trabalharem mais horas. O seu PIB ‘per capita’ (PPP) é 42% superior ao europeu.

Por fim, os EUA são o país com a maior desigualdade da OCDE (o 2.º é Portugal): os 10% mais ricos ganham 17 vezes mais que os 10% mais pobres.

Em síntese, os EUA são uma sociedade excepcional (diferente). Individualista. Centrada no trabalho. No culto da simplicidade. Optimista. Produtiva.

E, por outro lado, (segundo um estudo de V. Labunsky) materialista. Superficial. Agressiva. Com pouca coesão familiar. E comunitária. Deselegante: uma sociedade de ‘jeans’, ténis e ‘t-shirts’. Apressada.

Nas palavras de O. Wilde após o seu regresso dos EUA: “Se os americanos não se vestem bem, vestem-se confortavelmente; no ar, além de conforto, há acima de tudo movimento, muito movimento e barulho. Todos parecem estar sempre com pressa para apanhar um comboio”.

No fundo, e como sempre na vida, os americanos têm os defeitos... das suas qualidades. E nuns e noutras são excepcionais.



publicado por psylva às 21:36
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Eles falam, falam...
Os milhões que hoje preenchem toda uma coluna da primeira página do Diário Económico têm uma história curiosa.

São herdeiros de outros largos milhões que, desde 1986, desaguaram em Portugal vindos directamente de Bruxelas com o objectivo de contribuir para o crescimento do país. Passados quase 20 anos, ninguém sabe exactamente o que aconteceu a esse dinheiro.

Para quem tem memória curta, Portugal recebe subsídios comunitários desde os anos 80, e tem sido um verdadeiro especialista em esbanjar dinheiro europeu. Sabe-se que as vendas de jipes subiram em flecha nos anos noventa e que o dinheiro destinado ao regadio se evaporou sem consequências. Não há, sequer, uma grande obra que se associe ao dinheiro de Bruxelas – como em Espanha, em que a agricultura se tornou uma das mais rentáveis do mundo. O dinheiro entrou, foi aplicado não se sabe muito bem onde e, feitas as contas, estamos, como se diz em bom português, “menos mal”: um poder de compra 33% inferior ao da média comunitária e 75% inferior ao da Irlanda – que arrancou tão pobre como nós. Até os gregos estão à nossa frente, com um poder de compra sete por cento mais alto. E a Eslovénia, com três por cento mais. Confrangedor, portanto.

Sabendo-se que estes milhões que agora entram nos cofres do Estado serão, provavelmente, muito reduzidos pela União Europeia (de 2007 para a frente, a prioridade são os novos países aderentes) a forma como serão aplicados torna-se, quase, um desígnio nacional. E é bom que o país tome consciência disso.

O país, sim, e não o Governo. Um exemplo: os 100 milhões de euros entregues ao Ministério de Álvaro Barreto não se destinam às despesas de funcionamento da sua equipa. Revertem, integralmente, para as empresas através do programa de incentivos à modernização. Dito de outra forma, seguem para as mãos dos empresários. Muitos deles são os mesmos que, há quinze anos atrás, investiram tudo em motos e jipes (apresentando depois facturas de máquinas agrícolas).

Outro exemplo: vão 82 milhões de euros para o Ensino Superior. Para os alunos, portanto. Se ninguém estudar, são 80 milhões que se escoam pelo cano.





publicado por psylva às 21:28
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