Quinta-feira, 13 de Abril de 2006
Financial Times 31/3/2006

Uma política obcecada com o preço piora a Saúde. Quando centrado no preço, o Governo acaba por prejudicar todos: utentes, indústria e a economia.

Factos: “Durante a maioria do séc. 20, as farmacêuticas alemãs lideraram o sector mundial, com inovações fundamentais: desde a aspirina à pílula” (cit. FT).

E continua o FT: “Hoje, os laboratórios alemães são débeis... a Alemanha já não tem uma única empresa nas 12 maiores mundiais... a Hoechst foi comprada pela Aventis... a Knoll pela Abbott... etc.... Para se encontrar as maiores empresas mundiais é necessário atravessar o Reno para sul (Suíça: Novartis e Roche); o canal (R.U. [Reino Unido], Irlanda: Glaxo, AstraZeneca); ou o oceano (EUA: Abbott, Pfizer)”.

Porquê?: “A Alemanha destruiu a sua indústria... e o mercado é horrível. Parte da culpa é das empresas e sua lentidão em completar a investigação química com biológica e biotecnológica. Além de uma cultura de consenso e burocrática: em algumas empresas alemãs o comité que decide se um projecto de investigação deve prosseguir ou não, chega a ter 70 pessoas contra 12 p.e. na AstraZeneca”.

Segue-se “a sociedade com o seu modelo social, criando dificuldades de reestruturação e redução de empregos, apoiando uma... estrutura accionista baseada em bancos” e promíscua: o resultado é a lentidão na tomada de decisões.

Finalmente, há a política farmacêutica governamental e “a sua ênfase no preço... com pressão sobre o preço da inovação, com resultados desoladores”.

Explicação: sem protecção para a sua inovação, as empresas votam com os pés e emigram. Fogem. Para o R.U., Irlanda, EUA, etc. Afectando o PIB, empregos e balança comercial (a inovação tem que ser importada).

Donde, uma política obcecada com o preço piora a Saúde (lentidão na entrada da inovação no mercado devido a maior tempo para a decisão de comparticipação, rupturas de ‘stocks’ nos pontos de venda, menor % de medicamentos orfãos lançados, maiores estadias hospitalares), etc.

Pelo que, quando centrado no preço, o Governo faz de aprendiz de feiticeiro, criando uma emenda pior que o soneto, e acabando por prejudicar todos: utentes, indústria, economia e até os contribuintes. Interesses diversos que deveriam ser protegidos em equilíbrio. Porque como disse Aristóteles: a virtude encontra-se no ponto equidistante de dois defeitos. A virtude está no meio.

Prova?: a evolução ao longo das últimas duas décadas: produção de medicamentos na Alemanha em % da UE: de 24% para 15%. Do VAB farmacêutico em % da UE: de 24% para 19%.; e em % da OCDE: de 12% para 7%. Exportações em % da UE: de 26% para 17%. Etc. etc.

Mas pelo contrário: no R.U. onde a inovação tem preço livre: o VAB (em % da UE) cresceu à taxa de 1,3% ao ano, o saldo da balança comercial farmacêutica em % do PIB passou de 0,22% para 0,33%; e assim sucessivamente.

Moral da história?: os governos devem resistir à tentação de centrar a sua política farmacêutica exclusivamente no preço. É simples? É. Só que, e citando O. Wilde: “os governos resistem a tudo menos... às tentações”.


publicado por psylva às 13:02
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