Sábado, 10 de Setembro de 2005
Classes sociais nos EUA
A crença, a essência do sonho americano, é a mobilidade social. Não o desaparecimento de classes. Mas sim o desaparecimento das barreiras entre classes.

E a maioria dos americanos acreditam nesse sonho. Num inquérito do New York Times (2005), à pergunta: é possível começar pobre, trabalhar muito e ficar rico?: 80% dizem sim; 20% respondem não. Há 20 anos os valores eram 60% e 40%.

Mais: 40% dos americanos acreditam que a possibilidade de subir socialmente aumentou nos últimos 30 anos, contra 23% que pensam o oposto.

A realidade, contudo, ensina que são estes últimos que têm razão. Segundo, vários estudos a mobilidade social, tendo aumentado após a IIª GM, está agora em declínio; pelo que a probabilidade de se morrer na mesma classe social é hoje maior que há 30 anos atrás.

Três questões: 1) Porquê?; 2) Como aumentar a mobilidade?; e 3) Como explicar que as crenças das pessoas não correspondem com a realidade?
Porquê? Há duas grandes barreiras à mobilidade: a desigualdade de rendimentos e a cristalização das diferenças de mérito.

Os EUA são o país da OCDE com maior desigualdade de rendimentos: 20% da população tem 46% da riqueza (Des. Hum. ONU). E esta diferença está a aumentar: nos últimos 25 anos, o rendimento dos 1% mais ricos aumentou 139%, contra 17% dos rendimentos medianos e 9% dos 1/5 mais pobres (todos rendimentos ajustados para a inflação).

Depois, estas grandes desigualdades de rendimento contribuem para que os (des)privilégios e (des)vantagens sejam doados e herdados: embora a % de universitários tenha aumentado, a % de alunos de classe alta nas melhores universidades, também aumentou.

Solução? Segundo os liberais, i.é partido democrata): progressividade fiscal e melhor acesso geral à educação: com quotas e apoio financeiro.

Pergunta-se: mas se há menor mobilidade social, como explicar que os americanos acreditem no oposto? Por duas ordens de razões.

Primeiro, o conceito de classe social hoje não é essencialmente de rendimento e sim de valores: na década de 50 os administrativos eram republicanos, hoje votam democrata; os operários especializados eram antes fortemente democratas, hoje estão divididos 50%-50% entre o partido democrata e republicano.

Segundo, apesar das barreiras existentes, a motivação dos americanos (para enriquecer) é tão forte e a sua autoconfiança (de que serão capazes) tão grande, que lhes faz parecer as barreiras menores do que efectivamente são: i.é acreditam genuinamente que conseguem superar os obstáculos.

À pergunta se o sucesso depende de mim (e não de forças fora do meu controlo), 65% (contra 32%) dos americanos respondem que sim. Na Europa? O inverso: 35% (contra 63%). Donde: o que é mais importante para o governo? “Liberdade para cada um alcançar os seus objectivos”, segundo 60% dos americanos, contra 20% na Itália, 35% na G.B., etc.

No limite, tudo se resume ao seguinte: um americano vê um condutor num Ferrari. E pensa: ainda hei-de andar de Ferrari. Em outros países?: pensa-se: ainda hás-de andar a pé como eu.



publicado por psylva às 10:58
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