Sábado, 23 de Julho de 2005
A não competitividade europeia
O euro e a Agenda de Lisboa aumentaram drasticamente as expectativas e os objectivos europeus.
Infelizmente a realidade dos números tratou de desmentir ambos: 1) a Europa está longe dos números dos EUA; 2) e (o que é pior) nem sequer está a caminho de os apanhar (convergir).
O PIB per capita europeu é 70% do americano. E nos últimos 25 anos (1980-2005) a Europa cresceu em média menos que os EUA. Logo, a este ritmo, se o passado for prólogo, a Europa nunca apanhará os EUA. A Europa está em processo de divergência com os EUA.
Porquê? O PIB per capita é fruto do produto de 4 factores: (1) produtividade horária x (2) número de horas trabalhadas x (3) taxa de actividade x (4) taxa de emprego.
Ora em todas as 4 variáveis os Europeus são piores: são 16% menos produtivos por hora que os americanos; trabalham por ano menos 11% de horas; têm uma população activa menor (49% contra 50,3%); e uma maior taxa de desemprego: 7,7% contra 6%.
Pelo que, e em síntese, os americanos trabalham melhor e mais que os europeus. Porquê? Novamente há várias razões.
Apontemos seis: são mais novos (mediana de idade de 36 contra 39 anos na Europa). Têm maior diversidade na força de trabalho (46% contra 43% são mulheres e a (i menos e)migração representa anualmente 0,45% da população contra 0,25% na Europa.
São mais motivados: 80% têm muito orgulho no seu país contra 50% dos britânicos, 38% dos franceses e 25% dos italianos. Ora, é mais difícil estar-se motivado quando se acredita ter-se nascido no país errado...
Depois, os americanos são mais autoconfiantes: 65% acredita que o seu sucesso depende sobretudo deles (contra 39% na Europa).
E finalmente têm mais liberdade económica que a UE 15 (com a excepção de Irlanda, UK e Dinamarca). Ora a correlação entre o índice de liberdade económica (da Fundação Heritage) e o de competitividade (do World Economic Forum) é muito forte: 0,62 (estatisticamente significativa a 1%).
Por estas razões, a UE 15 não só está longe da competitividade americana, como se está a afastar dela. Significando que mais do mesmo não é solução. É preciso ser diferente. Um salto qualitativo. Que requer rupturas, transformações.
É assim estamos caídos nas tão faladas reformas estruturais. Cuja necessidade é óbvia. Porque, o maior garante de estado social é a produtividade.