Segunda-feira, 10 de Julho de 2006
Ecos da História


“Somos uma raça decaída por ter rejeitado o espírito moderno: regenerar-nos-emos abraçando francamente esse espírito. [...]” (A. de Quental, 1871).


Por um lado... Ribeiro Macedo, diplomata (1618-1680): “A nação portuguesa não cabendo nos seus limites saiu a descobrir o mundo e achámos das mais férteis e ricas partes do mundo... nelas temos colónias... que compram roupas e manufacturas da Europa... donde é dos estrangeiros a utilidade das nossas descobertas sendo nós uns feitores das nações europeias... só a introdução da indústria fará com que sejamos senhores úteis do Brasil...”

Agravado por uma classe dirigente (séc. 19) “de estirpe não boa... com eles tudo é indefinido... pouca ambição, pouco espírito de luta” (Infanta D. Maria Teresa, primogénita de D. Carlota e D. João). “A união das classes dirigentes e da Inquisição fez de Portugal um reino da estupidez” (F. Melo Franco - séc. 18/19).

Donde (Antero de Quental, Conferências do Casino em 1871): “Nunca povo algum absorveu tantos tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobre”. E sobre a macrocefalia portuguesa: “Lisboa não foi Portugal até meados do século 14, mas desde que a vida ultramarina nos absorveu tudo, Portugal sempre produziu pouco, dependendo das colónias, com a cabeça demasiado grande para corpo tão pequeno”... “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”... “Lisboa absorveu Portugal... uma cabeça de gigante num corpo de pigmeu”... (Oliveira Martins, 1989).

Que fazem os portugueses? “Vivem do Estado... desde os 1os exames, a mocidade vê nele o seu repouso e garantia de tranquilidade... a própria indústria faz-se proteccionar do Estado... o qual é a ociosidade organizada... também a ciência vive do Estado... e este é a ocupação natural das mediocridades” (Eça de Queiroz).

Outra consequência é o complexo de inferioridade que leva a que os “portugueses são excessivamente orgulhosos e presumidos... e aparentam grande magnificiência embora sejam completamente ignorantes” (César Saussure, suíço, após visitar Portugal). E em consequência também desse complexo, a maledicência: Cifuentes, embaixador espanhol em Roma (séc. 16): “os portugueses quando interrogados sobre um compatriota, por mais eminente que seja, sempre o aniquilam; já os castelhanos, perguntados sobre outro castelhano, mesmo vulgar, sempre o enaltecem. Porque será?”. Resposta de D. H. de Meneses, embaixador português: “Porque ambos mentem”.

Por outro lado: “Antes de os conhecer imaginava que os portugueses dificilmente compreendiam os trabalhos mecânicos e que passavam os dias numa moleza decrépita sem disposição para o trabalho. Nada mais injusto. Excepto as classes dirigentes e os serviços inúteis, todo o resto da nação é trabalhadora e habilidosa” (C. Ruders, visitante sueco, séc. 19).

Em síntese: “Somos uma raça decaída por ter rejeitado o espírito moderno: regenerar-nos-emos abraçando francamente esse espírito. O seu nome é revolução, não pela guerra mas pela verdadeira liberdade” (A. de Quental, 1871).

Até porque, lutar contra a mudança é não só reaccionário, como niilista: “Dizer que uma coisa é má por ser nova é dizer que todas são más, uma vez que as velhas já foram novas no seu princípio” (Hipólito Costa, 1774-1823).



publicado por psylva às 13:23
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