Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2005
Os velhos do restelo - reproduçao de artigo do JNeg.
Aos velhos do Restelo, só deixo um conselho suicidem-se. Porque não entendem que é pelo vosso atavismo que o País não anda para a frente? Não invejem, criem. Não lamentem, trabalhem. Não chorem, empreendam.
O meu texto da passada semana sobre a necessidade de se gostar do que se faz profissionalmente suscitou uma chuva de comentários desagradados com a ideia. Um tal de «pase2004» escreveu que «a conversa do senhor José Diogo deve dirigir-se só a partes de sociedades como as alemãs, austríacas, dos Países Baixos, inglesas, francesas, espanholas, ou americanas. Porquê? Simplesmente porque essas sociedades, e mais nas anglo-saxónicas, valorizam quem é bom naquilo que faz, e não quem é amigo, familiar ou carneiro yesman.» Um «luisr» acrescentou que «a corja de patifes que tem governado este beco europeu não deixa margens para dúvidas. É muito triste, é fado,... é tuga. O meu amigo crê honestamente nalguma viabilidade do que escreve, ou é só para animar a malta?» E já um Sonhador perguntava «já agora, como conseguiu o emprego que, aparentemente, lhe paga o suficiente para andar no mundo da fantasia? Ou será que mantém até hoje o «paitrocínio»?». Só para este onírico desconfiado, gostaria de confirmar que tudo o que tenho é fruto do meu trabalho e da minha motivação. Aos meus pais devo a formação moral, cívica e académica. Muito obrigado.
Mas o que desgosta nestes velhos de Restelo é a sua incapacidade em acreditarem. É uma gente derrotada que não confia em nada e, mais triste, não acredita nela própria. É a tal história do fado, do miserável destino «tuga». Parece que Portugal está condenado a gramar com estes perdidos, que para além de nada fazerem, se entretêm a destruir o que os outros fazem. Por acaso Belmiro de Azevedo ganhou o totoloto? Jardim Gonçalves herdou um banco? Rui Nabeiro encontrou uma plantação de café em Campo Maior? Paulo Fernandes descende de uma família de jornalistas? O que irrita nestes miseráveis é que se limitam à lamentação da sua má sorte, atribuindo o sucesso dos outros à sorte, às cunhas ou ao roubo. Nunca vêem o mérito de quem faz e nunca olham para si próprios como os verdadeiros párias que são porque, pensam, é a sociedade que não os compreende, o sistema que não os valoriza, a má-sorte que não lhes ofereceu uma merecida herança. A estes imbecis, só deixo um conselho suicidem-se. Porque não entendem que é pelo seu atavismo que o País não anda para a frente? Não invejem, criem. Não lamentem, trabalhem. Não chorem, empreendam. Acredito que o homem tem em si mesmo a capacidade de determinar e construir o seu destino. Nada é pré-determinado. Mas esta gente não tem nem passado nem futuro, porque se limita a conspirar contra o sucesso alheio e a gemer pela sua entediante situação.
São estes mesmos idiotas que no próximo domingo se entreterão a faltar às urnas ou, num igual estado de laxismo, a votar em branco. «Nada vale a pena, os políticos são todos iguais... estão lá é para «mamar» à nossa conta. Isto já não tem solução», reclamam. Caríssimos: têm uma oferta eleitoral que se estende da extrema-esquerda à extrema-direita. Podem ainda tentar jogar em combinações de maiorias governativas pós-eleitorais. E têm ainda o direito de criarem os seus próprios partidos e irem à luta. O que não têm, para mais num momento tão difícil e determinante para o País, é o direito de ficarem nos vossos sofás, entretidos no vosso coro de protestos vazios. Portugal precisa de todos os portugueses para sair do atoleiro em que se meteu. Mas Portugal necessita, mais do que isso, de uma coisa simultaneamente tão básica como difícil. Que os portugueses se deixem de mariquices e de auto-complacência e acreditem neles, empenhando-se na solução dos nossos problemas comuns o que passa pelo exercício de uma opção eleitoral. Um português não é, em absolutamente nada, diferente de um espanhol, de um inglês ou de um americano. Eu sei, porque já estive no estrangeiro e vi que, lá fora, os homens e as mulheres têm as mesmas duas pernas, os mesmos dois braços e a mesmíssima cabeça. O que falta ao cérebro dos portugueses é saber que aquilo que se quer, se consegue. Estudem, inovem, trabalhem, persistam e acreditem. É assim em tudo o mundo, quando se quer o sucesso. E é da mesma forma em Portugal. Não culpem o sistema, os políticos, os vizinhos, ou o azar pelo que não têm. Culpem-se a vocês e libertem-se dessas limitações. Portugal precisa. Vocês também, mas Portugal precisa muito mais.