Terça-feira, 19 de Dezembro de 2006
Está feliz!
Encontrei um amigo de infância que estava feliz. Coisa rara nos dias que correm. Contou-me as razões.
Encontrei um amigo de infância que estava feliz. Coisa rara nos dias que correm. Contou-me as razões.
Entusiasmado com a subida do petróleo e com a ideia de que as petrolíferas ganham com elas, mas mais entusiasmado ainda com uma palestra minha sobre privatizações e ganhos em ofertas públicas de venda de acções ou com os efeitos das entradas das empresas nos índices de acções, o meu amigo resolveu ir à privatização da GALP.
Eu tinha-lhe dito que, de um estudo em que participei sobre o assunto, se concluiu que a média histórica dos ganhos em OPV’s em Portugal, era de 10,55% quando as acções eram subscritas na Oferta Pública Inicial e vendidas no final do primeiro dia de negociação. Também lhe tinha dito que de outro estudo que fiz sobre o efeito da entrada de uma acção no índice PSI20, se concluiu que o ganho médio era de 3,33% entre o dia do anúncio e a véspera da entrada do título no índice.
Ora a OPV da GALP ocorreu na segunda-feira, 23 de Outubro, podendo as acções negociar-se em bolsa logo no dia 24. Também foi anunciado que o título GALP iria ser integrado no PSI20 no dia 30 de Outubro, segunda-feira da semana seguinte.
Com base em todas estas informações o meu amigo foi à subscrição.
Quando chegou ao seu banco para subscrever as acções disseram-lhe que, dado o elevado número de ordens de subscrição seria melhor ele atrever-se a subscrever o máximo permitido que, no caso dele que apenas tinha interesse em aproveitar das minhas palavras, seria o lote reservado ao público em geral. A medo subscreveu o máximo.
Na terça-feira dia 24 de Outubro recebeu uma chamada do seu gestor de conta informando-o de que estaria com sorte porque lhe tinham sido atribuídas 170 acções! Ficou feliz!
Chegou-se a mim e disse-me radiante que iria explorar os dois efeitos: o da OPV e o da entrada no índice.
Avisei-o de que rendimentos passados não são sinónimos de rendimentos futuros e que por isso quando se tratam de títulos de rendimento variável, nunca se sabe.
Na sexta-feira dia 27 de Outubro deu ordem de venda das acções. Fechou o negócio vendendo a 6,05, no final da sessão desse dia.
Telefonou-me no dia seguinte feliz: “– É pá quando é a próxima? Eh eh! Foi limpinho! Ganhei 39 euros sem saber ler nem escrever no espaço de quatro dias!”
Acalmei-o e perguntei-lhe: “– Entraste em linha de conta com os custos de transacção e com os impostos?” Resposta: “– O quê?” “– Então vê lá isso e depois diz-me qualquer coisa.”
Dois dias depois liga-me e informa-me que lhe cobraram €7,32 na compra, mais €7,28 na venda e ainda lhe vão cobrar €10,29 de custódia de títulos no final do trimestre. Ainda me lembrou que vai pagar IRS sobre os ganhos obtidos em bolsa pelo que estima que o líquido se fique pelos €8,35. Isto é, dada a pequenez do lote que lhe foi atribuído, 80% da mais-valia conseguida foi absorvida pelos intermediários, bolsa, central de liquidação e Estado através dos impostos.
Está feliz!